O ex-presidente brasileiro foi o 16º a receber o título da Sciences Po em 140 anos de história. Ele foi aplaudido de pé pelos docentes, estudantes e embaixadores de vários países latino-americanos, que agitavam bandeiras verde e amarelas.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem (27/9) com "grande honra" e "profunda alegria" o título de Doutor Honoris Causa do prestigiado Instituto de Ciências Políticas de Paris, algo que considerou uma homenagem ao povo brasileiro. "Este título representa muito mais que uma homenagem pessoal, representa o esforço que o povo brasileiro fez para que se construísse a democracia que construímos e as conquistas sociais que o Brasil obteve", afirmou.
Ele foi aplaudido de pé pelos docentes, estudantes e embaixadores de vários países latino-americanos, que agitavam bandeiras verde e amarelas. "É para mim uma grande honra recebê-lo, e ainda maior porque sou o primeiro latino-americano", declarou Lula.
Lula foi o 16º a receber o título da Sciences Po, como é conhecido o instituto, em 140 anos de história. Além disso, tornou-se o primeiro latino-americano homenageado pela entidade, que formou nomes como os ex-presidentes franceses Jacques Chirac e François Mitterrand, o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin, o escritor Marcel Proust, o príncipe Rainier III, de Mônaco, o ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, e a ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt.
CIDADANIA
Após citar alguns dos números-chave de seus dois mandatos (2003-2010), como as 28 milhões de pessoas que saíram da miséria, as 30 milhões de pessoas que entraram na classe média, os 16 milhões de novos empregos ou o aumento do salário mínimo em 62%, o ex-presidente destacou uma gestão que "começou a tratar os pobres como verdadeiros cidadãos".
Após dizer que o Brasil "não está sozinho nesta trajetória virtuosa de democracia, desenvolvimento econômico e justiça social", sustentou que a "esperança progressista do mundo de hoje navega com os ventos que sopram do sul". "A América do Sul não é mais a origem dos problemas deste mundo", afirmou Lula, enfatizando o papel dessa região na construção de um "mundo multipolar". "A América do Sul afirma sua presença na comunidade internacional, renovando a confiança em seus povos para construir um destino comum em democracia com crescimento econômico e justiça social", afirmou, antes de citar a crise da dívida que atinge a Europa e de lembrar: "quando houve crise no Brasil e no México recebíamos muitos conselhos". "Agora vejo o mundo rico com muitos problemas", disse o ex-presidente que pediu que a Europa adote "decisões políticas, não econômicas". "Temos uma liderança que acreditou muito nos mercados e não na política", declarou Lula. "Agora estão faltando decisões políticas", pois a "União Europeia é patrimônio da Humanidade", que não "pode se desmantelar só porque alguns bancos foram irresponsáveis", enfatizou.
Metalúrgico e líder sindical sem título universitário, que concorreu três vezes à Presidência antes de ser eleito, Lula declarou-se "orgulhoso de ter criado 14 universidades, 126 campi universitários e 214 escolas técnicas." "Pertenço a uma geração que acreditou muito que era possível", afirmou Lula antes de confessar que talvez tenha sido por "orgulho de classe" que quis "demonstrar que um metalúrgico sem diploma universitário podia fazer mais do que a elite política do Brasil".
MIDIA BRASILEIRA INDIGNADA
A velha mídia brasileira não gostou. Segundo registrou o jornal argentino Página12, os repórteres brasileiros presentes a uma entrevista coletiva com Richard Descoings, diretor do Instituto de Estudos Políticos, exibiram uma série de contrariedades. "Por que Lula, e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?", indagou uma reporter de um diário brasileiro. A maior parte da fala de Lula poderia servir como a resposta de Descoings que, aparentemente assustado, informou que a escolha se deu pelo "homem de ação que mudou o curso das coisas".
O ex-presidente fez várias citações aos avanços que o Brasil vem obtendo nos últimos anos. "Deixamos para trás um passado de frustrações e ceticismo. Os brasileiros e as brasileiras voltaram a acreditar em si mesmos e na sua capacidade de resolver problemas e superar obstáculos, por mais difíceis que sejam." Ao citar os avanços na democracia, Lula lembrou as 72 conferências setoriais realizadas ao longo de seu mandato, que resultaram na formulação de diretrizes de políticas públicas em diversas áreas.
O ex-presidente indicou seu passado de luta sindical como uma demonstração de que é por meio da política que se realizam as transformações. "Sempre acreditamos na força da política como promotora da emancipação individual e coletiva.
A participação política é o melhor antídoto contra a alienação e as tentações autoritárias." Durante a conversa com estudantes, ele elogiou a decisão da presidenta Dilma Rousseff de colocar como meta de governo o envio de 100 mil jovens brasileiros para estudar no exterior até 2014, mas lembrou que houve uma mudança na perspectiva destes alunos. "Estou muito feliz porque houve um tempo em que os jovens vinham para estudar na França, para estudar em outros países sem a perspectiva de voltar porque o mercado de trabalho do Brasil não crescia."
Fonte: http://www.pt-sp.org.br/noticia/?acao=vernoticia&id=6599
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