Em Paulínia, morador tem que pagar R$ 7,65 até para ir à padaria ou à farmácia; Guarda suspende ronda
ALENCAR IZIDORO
ENVIADO ESPECIAL A PAULÍNIA (SP)
Heraldo Ezier Bizi, 68, montou um estoque de seis botijões de gás dentro de casa -um para cada morador, já incluídos os dois netos. José Pedro Moreno Morcillo, 58, armazena comida. Adenair Scardua, 65, comprou quatro galinhas para garantir os ovos do jantar.
ALENCAR IZIDORO
ENVIADO ESPECIAL A PAULÍNIA (SP)
Heraldo Ezier Bizi, 68, montou um estoque de seis botijões de gás dentro de casa -um para cada morador, já incluídos os dois netos. José Pedro Moreno Morcillo, 58, armazena comida. Adenair Scardua, 65, comprou quatro galinhas para garantir os ovos do jantar.
E há mais de um ano quase toda a vizinhança não come mais pão fresquinho, não recebe a visita da Guarda Municipal nem a pizza do delivery. Não se trata de prenúncio de guerra nem catástrofe.
É só a vida de moradores que ficaram isolados pela implantação de uma praça de pedágio na SP-332, em Paulínia (a 117 km da capital paulista), com tarifa de R$ 7,65.
A cobrança, a cargo da concessionária Rota das Bandeiras, começou há 14 meses -na segunda etapa de concessões do governo paulista. Ela é feita num acesso lateral da estrada. O alvo eram caminhões de uma refinaria da Petrobras. Mas os moradores das casas espalhadas nas proximidades da fazenda Cascata ficaram sem alternativa de acesso a lugares indispensáveis como padaria, farmácia e banco.
O estoque de mantimentos é uma estratégia para atenuar a passagem no pedágio.
"Imagina pagar R$ 7,65 de manhã para comprar três pãezinhos, que não custam nem R$ 1. Aqui não existe comércio", diz a servidora Rosineide de Oliveira Moreno, 51. O marido dela reclama que não consegue nem receber a visita regular dos netos, mesmo morando a dez minutos deles. "Nem usamos a rodovia. É só para atravessar um pontilhão", conta José Pedro.
O transporte público não serve de opção -por ser uma área afastada, os ônibus só passam três vezes no dia. A concessionária diz que os pontos de pedágio foram definidos pelo governo e que ela segue o contrato. O governo Geraldo Alckmin (PSDB), por sua vez, não reconhece os problemas (leia texto nesta página).
SEM SERVIÇO PÚBLICO
Queixas de isolamento devido à implantação de pedágio se repetem em outros lugares do Estado -inclusive em concessões do governo federal, como a Fernão Dias. Em Paulínia, há um agravante: esses habitantes, que a prefeitura estima em mais de mil, tiveram até serviços públicos reduzidos.
A Guarda Municipal não vigia mais a área separada pelo pedágio -alega não ter isenção para seus carros e não ter como custear a tarifa para fazer a ronda. "Não há possibilidade de prestar serviço público lá por conta da cobrança. Só em caso de emergência", afirma Ronaldo Pontes Furtado, secretário de Segurança Pública."O lixo era coletado três vezes por semana. Agora, é uma. O pessoal da saúde não vai porque tem pedágio", complementa ele.
Empresas que vendem gás, galões de água e material de construção interromperam as entregas na região -exceto se a tarifa de R$ 7,65 for paga pelo próprio cliente. Quem trabalha no centro de Paulínia passou a ter a despesa extra diariamente -num mês, beira R$ 200.
Morador do local há 14 anos, Espedito de Paula Dias, 80, diz que nunca mais recebeu os clientes que compravam as abóboras de seu sítio. A rota à cidade vizinha, Cosmópolis, não adianta. A 3 km, tem outro pedágio, de R$ 5,45 -na ida e na volta.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2002201107.htm
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