quinta-feira, 25 de março de 2010

Seguimos em marcha: Por Iolanda Toshie Ide

Escuro ainda, no estádio onde acampamos. Eram 4 horas da madrugada e algumas companheiras já se levantavam para organizar o café da manhã. Outras se apressavam para o banho, dobrar os lençóis, enrolar o colchonete e levar a bagagem para o caminhão. Uma equipe se dispunha a ajudar a por a bagagem.

Suco, pão, mel, castanha de caju, banana compunha o desjejum. Escovar os dentes apressadamente e colocar-se em roda para o alongamento era a etapa seguinte. Antes das seis já estávamos em fila dupla, bandeiras hasteadas para a Marcha das Mulheres. Com tarja vermelha nos braços, a equipe de segurança ajudava organizar as componentes de cada Estado:

Cada dia era um que abria a Marcha.

Escuro ainda, a marcha se iniciava colorindo a rua com as camisetas e mochilas de cor lilás bandeira também lilases desfraldadas ao vento. As faixas mostravam que as mulheres sabem o que querem. Os rostos delicados, mas decididos mostravam o vigor e a beleza do ideal de igualdade e paz.

As longas filas serpenteavam a rodovia ainda meio na penumbra. Com suas tarjas vermelhas nos braços, as companheiras da segurança cuidavam para que todas se mantivessem em fila dentro faixa para que ninguém fosse atropelada pelo intenso movimento de veículos. Não faltavam as palavras de ordem:

A nossa luta é todo dia,
Somos mulheres e não mercadoria.

O sol dava as caras e se tornava cada vez mais ardente. A equipe de tarja azul carregava as pesadas caixas de transportadas por um antigo jipe Toyota também azul, pilotado por Tatiana. Rapidamente a equipe retirava as caixas e começava a operação de distribuição. As caixas eram colocadas no chão, entre as filas, e as companheiras distribuíam os copos para as marchantes. Tudo era realizado com muita rapidez para que as filas não se desfizessem nem formassem lacunas. Logo a seguir, começavam a operação de coleta dos copos vazios. As caixas se enchiam rapidamente e era necessário encontrar um carro de apoio onde depositar os copos descartáveis.

As marchantes iam se cansando, mas perseveravam. Algumas necessitavam de socorro. A equipe de Saúde, tarja verde, corria para encaminhá-las para o carro de apoio. Após um pouco de descanso retornavam, mas a maioria já não dava conta de continuar. Mas a marcha continuava altiva repetindo:

A violência contra a mulher
Não é o mundo que a gente quer.

E a marcha das mulheres continuava com suas belas bandeiras ao vento, colorindo a rodovia, atrapalhando um pouco o trânsito. Mobilização é para reivindicar e também causa um pouco de transtorno para visibilizar a desordem dessa sociedade desigual. Algumas estão bastante cansadas, mas ainda têm fôlego para gritar nosso lema:

Seguiremos em marcha
Até que todas sejamos livres!

Lá vai a Marcha das Mulheres fazendo história, mostrando que é capaz de fazer a revolução sem entrar na lógica do capitalismo, ou seja, sem armas. Nossos instrumentos são a garra, a certeza de lutar por nossos direitos e das companheiras do mundo inteiro. Sabemos o que queremos, somos teimosas. Segundo Sonia Coelho, temos uma certeza: não perderemos a hora da revolução porque, acordamos todos os dias duas horas antes. Quem disse que nós, mulheres, não podemos fazer a revolução, enganou-se. Sabemos o que queremos:

Paz, desmilitarização, soberania alimentar, bem-comum para todas e todos, serviços públicos para todas e todos, não violência, autonomia das mulheres.

Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante. Deixe sua mensagem, sugestão ou opinião sobre as notícias deste blog. Todos e todas estão convidados.